Agora que a temporada de verão está acabando (ou que 2008 está começando, a depender do ponto de vista) é preciso fazer algumas considerações sobre a maneira como o turista e/ou o veranista é tratado nas praias do litoral ilheense.Tudo bem que a atividade turística é sazonal e que é preciso faturar na alta estação para poder suportar a pasmaceira dos próximos meses, quando os clientes se resumirão basicamente aos ilheenses, itabunenses e demais moradores de cidades vizinhas.Mas, existe uma diferença gritante entre faturar e explorar.E em muitos casos o que existe é exploração mesmo, além de um atendimento digno daqueles botecos “pé-sujo” da periferia onde, pelo menos, a cerveja é impecavelmente gelada. Os preços estratosféricos, mesmo para os padrões de uma cidade turística, contrastam com garçons despreparados, que atendem (?) as pessoas como se estivessem fazendo um imenso favor. E tome porção de batata frita a 10 reais, iscas de carne ou peixe a 15 reais e pratos como moqueca que chegam a 50 reais. E tome, quem puder tomar, cerveja a 4 reais, preço que subiu na mesma medida em que o produto sumiu das praias, numa inacreditável falta de visão, já que desde dezembro se sabia que o movimento seria bem superior ao verão 2006/2007.Um exemplo dessa exploração pode ser observado numa cabana da praia do sul de Ilhéus, que nem está entre as top de linha. Uma simples codorna na farofa era vendida a 25 reais. Isso mesmo: 25 reais, com direito a pelo menos uma hora de espera. Visto que uma codorna custa num açougue 2 reais a unidade e o quilo da farinha de mandioca, da boa, gira em torno de 3 reais, por mais que se acrescentem custos adicionais (água, energia elétrica, funcionários, impostos, etc) a margem de lucro é considerável. E bota considerável nisso.Sejamos justos. Essa coisa de preço que quando o cliente reflete o que está pagando pensa duas vezes antes de ir a determinado local não é exclusiva de Ilhéus. Num dos mais badalados bares de Itabuna, um tira gosto de ovo de codorna com vinagrete custa 12 reais. Este modesto (e reconhecidamente pão duro!) jornalista não se conteve e fez o teste. Sentou num barzinho, desses que combinam simplicidade com bom atendimento e preço justo, e pediu um vinagrete por 2 reais. A dúzia de ovos de codorna, comprada de um ambulante, custou 1 real e 50 centavos. Misture tudo e o mesmo tira gosto de 12 reais saiu por 3 reais e 50 centavos. Haja custo adicional para justificar tamanha diferença.Quem não quiser gastar que fique em casa ou se contente com um botequinho qualquer, dirão alguns.Ninguém é obrigado a freqüentar esses bares e barracas de praia que cobram caro e quem vai, vai porque quer, dirão outros.Mas o fato é que, assim como o turismo é uma atividade sazonal, o cliente pode até ser escalpelado uma ou duas vezes, mas quando se sente explorado raramente volta. Pior: faz uma propaganda contrária que multiplicada, provoca um estrago danado.Com o caixa cheio após o verão gordo, poucos enxergam isso.Mas, pelo bem do turismo sul baiano, não custa nada abrir os olhos.Já que nem sempre dá para, literalmente, abrir os bolsos.
Daniel Thame
sábado, 9 de fevereiro de 2008
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Um comentário:
Faço minhas as tuas palavras e acrescento: em Salvador essa visão exploratória gera prejuízo. Uma cerveja nas praias de Salvador chegou aos R$ 4!! Um peixinho mequetrefe, que demora barbaridade prá chegar, custa R$ 30!!
E aqui não tem esse negócio de sazonalidade não: ainda que nas épocas mais adequadas para turistas baixem nestas áreas milhares de visitantes, Salvador tem um enorme mercado interno. Todo dia é dia de vender....
Mas os barraqueiros, muito mal preparados, na minha opinião, optam por esfolar os clientes pagantes. O resultado é que as vendas despencam. O que se vê cada vez mais é um monte de mesa ocupada com pessoas tomando uma água de côco, e olha lá. Aquele hábito de ir para praia com a família, tomar cervejas, refrigerantes, almoçar e, de quebra, um sorvetinho para as crianças, está desaparecendo. O pessoal continua indo com a família. Mas nada de consumir.
A estupidez é grande. Outro dia eu conversei com um garçom sobre seus ganhos na atividade: pífios. O que acaba gerando uma alta rotatividade e baixo profissionalismo dessas pessoas. Claro! O barraqueiro finge que paga e ele finge que trabalha: nada mais natural.
Um redução de preços (e pode reduzir muito) geraria um aumento de consumo. Margens menores, porém com faturamento maior: toda a cadeia se beneficia. É claro que, nesse caso, a turma da cozinha vai ter que trabalhar mais, o caixa vai trabalhar mais, o garçom vai viver em desabalada correria (prá atender muitos pedidos), mas e daí? É com trabalho que se ganha dinheiro.
Essa lógica tupiniquim de trabalhar o mínimo possível e explorar ao máximo (isso vem desde o período da colonização) nunca deu certo. Tanto é que os barraqueiros, pelo menos aqui em Salvador, não são exemplo de empreendedores de sucesso. Muito pelo contrário: umas barraquinhas mais fuleiras do mundo, de frente para um litoral maravilhoso, sol escaldante e milhares de clientes querendo gastar (mas com parcimônia).
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