ARNALDO JABOR.
.O bem está virando um luxo, e o mal é quase uma necessidade social. Sem participar um pouco do mal, não conseguimos viver. Como ser feliz olhando as crianças famintas? Temos de fechar os olhos. A felicidade é uma virtude excludente. Ser feliz é não ver. O mal está virando um mecanismo de defesa. Quem é o mal: o assaltante faminto ou o assaltado rico? Ou nenhum dos dois? Como praticar o bem? Apenas se horrorizando com o mal? O que é o bem hoje? É lamentar tristemente uma impotência, é um negror melancólico?
.
.
O Mal é sempre o outro. Ninguém diz, de fronte alta: "Eu sou o mal!" Ou: "Muito prazer, Demônio de Almeida". Até o homem-bomba se acha o bem, pois sua missão é destruir a modernidade, e para a razão da tecnociência eles são o mal porque incompreensíveis. O mal no mundo hoje é o "incompreensível".
.
.
Nem um "bem" tradicional se sustenta mais, vejam o arcebispo excomungante e o papa burocrático.
.
.
O mal do Brasil não está na infinita crueldade dos torturadores ou das elites sangrentas; está mais na sua cordialidade. Aqui, o perigo é o Bem.
.
Parte do texto de ARNALDO JABOR publicado no Globo de (09/03).
2 comentários:
Um~comentário muito bom e serve para refletir...
Muito bom esse comentário, serve para refletir...
Postar um comentário